terça-feira, 12 de maio de 2015

Sobre a Certeza

Há alguns dias a Lua me pediu um poema. Encomendou a poesia para usar em alguma serenata para seu amante em céus que não ouso caminhar. Me deu os temas, algumas palavras chaves, uma possibilidade de rima e métrica em que ela já estava pensando, e disse “agora te vira”.

Comecei a escrever, e o relógio me parou. Ou me parou o relógio. Meu relógio parou e eu parei, se assim ficar mais bem compreendido. As horas tornaram-se um vulto espesso e gigantesco, praticamente infinito, como uma fabulosa neblina que cobria absolutamente tudo. É certo que a neblina acontece quando o mundo está triste, mas esse não era um poema de tristeza, era apenas um truque do tempo.

Assim eu vi o tempo tomando forma, e ele só fazia isso com o objetivo de parar, de não mais correr. Em meio àquela névoa, percebi que o tempo parou, na verdade, por um objetivo maior: para que eu terminasse o poema que a Lua pediu. Mas o relógio só ficava parado na companhia da Lua, nos outros momentos o tempo se lançava vertiginosamente rumo ao futuro.

O ar me ia faltando, as pernas me iam tremendo. Sentíamos falta mutuamente: eu e o ar. O ar não serve para nada se não houver quem o respire, ou ao menos quem use asas para nele pairar. Haveria um mundo se não houvesse ninguém para presenciar a existência do mundo? O mesmo vale para as horas.

A Lua começou a me apressar, queria logo o poema pronto. Oras, todos temos compromissos, não compreende? Oras, temos compromissos com as horas. Nova, crescente, cheia, e minguante: fases também de nossas vidas. E como outrora dito: tudo minguará.

Mas então percebi que se eu nunca terminar o poema, talvez o relógio possa ficar mais vezes parado em companhia da Lua. Mais tempos para que o tempo seja eterno e me falte o ar. E mais oportunidades para poemizar.

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