Somos mestres em amores inacabados. Daqueles filmes cujo final inexplicado deixa uma sensação de desconforto no ar, de que o realizador da obra deveria ter sido ligeiramente mais específico. Aqueles amores de ônibus, paixões platônicas que duram apenas os 40 minutos do trajeto entre um começo, passando por um meio, e ironicamente chegando a um fim. Quarenta geralmente longos minutos, encurtados quando os amores tornam os tempos relativos.
Mas esse é só um exemplo de amores inacabados. Existem outros: dos telefones, nos quais a voz nunca assume forma física; os virtuais, nunca reais, que por vezes até se tornam realidade, mas um início tão metafísico não pode ser consumado com todas as eternidades. Apesar que fato é que existindo por si só, eterno é. Durante 15 minutos, te amei para sempre.
Não tenho um mínimo de respeito, necessário à convivência pacífica, por quem acredita que todas as boas histórias já foram contadas. Histórias existem em sistemas infinitos, em progressões geométricas nas quais casas nos tabuleiros de xadrez viram montanhas incomensuráveis de trigo. Há ainda tanta coisa a contar, tanta coisa a viver, tanta coisa a sentir. Eu sinto, e sinto muito!
Mesmo que seja um romance mal escrito, desses que se vendem em bancas de jornal. Erotismo barato, papel reciclado, capa desgastada antes mesmo de ser vendida. Tudo desbotando ao Sol, desbotando até mesmo à Lua, dada sua perenidade. Mas oras, são essas histórias também. Têm seu brilho, suas boas passagens, e seus autores podem mesmo ser citados entre aspas em obras um tanto quanto mais profanas.
E que seus autores não sejam jamais esquecidos, nem mesmo seus atores. Pois que tudo que inacabado é, por acabar estar. E oras, dir-se-ia que se nossos amores estão ainda inacabados, então significa que eles vivem conosco para sempre, ainda existindo, e coexistindo com tantos outros amores. Mesmo que estejam todos inacabados, celebrando a eternidade.
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