quarta-feira, 9 de julho de 2014

All Shall Fade

Somos poeira ao vento. Cópias de outros momentos. Como versos desgastados. Papéis amassados. Castelos desmoronados. Somos verbos reutilizados, na terceira pessoa, e em flexões no passado. Somos essas rimas pobres que insistimos em aplicar mesmo sabendo que nossas poesias ficarão uma porcaria com elas. Somos essa poesias de banheiro de boteco de beira de estrada, nunca lidas e para sempre lembradas.

Sempre disse que luz demais pode acabar cegando. Aos poucos, o brilho da estrela que nos dá a vida é capaz de ir corroendo as retinas, acabando com a magia que ela mesmo cria, derretendo o milagre da construção imagética. Borrando as cores, diluindo matizes, transformando tudo em um único e envelhecido tom de coisa velha e deteriorada. E então podemos dizer que está se apagando.

Está tudo se diluindo dessa forma. Todas as luzes, afinal, foram feitas para cegar. Estamos todos aos poucos sendo verbos, e sendo reutilizados. A longo prazo, a tendência de todas as coisas é se apagar. A longo prazo, a tendência é sempre desbotar. E é o que fazemos, desvanecemos. Somos aquela cor viva que existia antes em determinado objeto que passou tempo demais ao sol. Mas estamos sempre desvanecendo.

Dado o prazo suficiente, todas as criaturas estão assim, desvanecendo; e procurando sinônimos para seu próprio desbotar. Procurando dicionários, e tentando entender o que acontece. Acontece o que acontece a todas as criaturas, e a todas as coisas, e a tudo o que se passa nesse mundo e nos outros: all shall fade. Tudo desvanecerá. Apenas três palavras suficientes para determinar a verdade mais imutável de todas: tudo desvanecerá.

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