Camadas e mais camadas de coisas mortas, meros recondicionamentos do próprio tempo. Extração, filtragem, preparação, alinhamento, e produção, tudo aquilo que respirou há de um dia fazer respirar. Uma massa negra de composto químico-orgânico. Lasanha de petróleo.
Os dias acumulam-se um diante do outro, esperando que chegue a sua vez de estragar com tudo. As noites revezam-se na tentativa de amenizar o caos e o terror dessas vidas. Mas o caos e o terror são benéficos, agem em prol do tempo, agem de acordo com as vidas, com a noite. A noite é possuída pelo caos, ele é visto em cada esquina, em cada amontoado de petróleo. Nessas massas negras de asfalto.
A rua não é necessariamente apenas a rua. O asfalto. A massa negra. Tudo o que não é casa, é rua, quando envoltas pela negritude da noite, e apoiadas pela negritude dos asfaltos. Em todos esses lugares frequentados pela nossa geração, os becos, as travessas, as esquinas com placas deterioradas pela própria noite. A noite não gosta de nomes que as definam. E as ruas não precisam ter nomes sendo que elas têm vida.
Todas as ruas são uma só, são a morada dos melhores cachorros, dos melhores animais, e dos mais terríveis sonhos. É nelas que encontramos o mesmo que perdemos, e perdemos tanto quanto encontramos. Nas ruas, temos a oportunidade de ter o mundo aos nossos pés, e de sermos arrastados pelo asfalto, ficando aos pés do mundo.
É nas ruas que a nossa geração se localiza, se identifica e se pluraliza, essa geração que vem sendo moldada nas últimas décadas, que vem perfazendo uma trilha única e multifacetada ao mesmo tempo, ao longo do tempo. Afinal, todos os caminhos levam à rua.
Esse é a primeira parte (um prefácio talvez) de um tratado que pretende compreender o zeitgeist do nosso tempo, o desenrolar dessa geração que prefere as ruas.
Ao passar pela net encontrei o seu blog, estive a ler algumas coisas e posso dizer que é um blog fantástico,
ResponderExcluircom um bom conteúdo, dou-lhe os meus parabéns.
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Sou António Batalha, do Peregrino E Servo.