Costumo adorar os amanheceres da Gralha Triste. Há um leve cheiro de interior no ar, naquela vila cercada de mato por todos os lados, uma ilha de concreto, que faz divisa com os territórios da notória Petrobrás, e suporta ainda os gases da pouco visualizada Termelétrica. Mas há um quê de cheiro de vaca, talvez proveniente daquela granja que sempre dizem que vai fechar. Oras, mas pois se na granja há frangos, e não vacas, não me perguntem então quais cheiros são esses.
Respiração, aliás, é sempre exceção e nunca regra nessa vida. Com frequência a noite traz gostos estranhos para essas bocas. Mas as vezes é bom simplesmente não respirar, por quanto tempo se possa suportar a asfixia. O que tivemos um dia era nada, hoje é quase tudo, mas tudo o que não é tudo, não é nada mais que nada. Ou se é tudo, ou se é nada.
Por isso as coisas mudam, muitos tudos viram nadas, e vice versa. E há que sempre estar mudando, pois a continuidade é sempre entediante, mesmo quando desejada. Sempre que possível, contribui-se para as mudanças, mas quando faz-se a própria se a própria é sempre adiada. As coisas continuam... Como as reticências continuam infinitamente até que parem. Pois que tudo para, mesmo as mudanças. Dizem que toda mudança é boa. Mas algumas mudanças não são desejadas, e nem tudo o que é bom faz bem.
E se as histórias são contadas do ponto de vista do vencedor, o que dizer das histórias que ainda estão sendo construídas? Não há vencedor, todos foram vencidos. Todos derrotados. Mas a história continua sendo construída, e fazer parte disso é fazer a própria história, mesmo que não ativamente. E mexe-se em vespeiros a todo momento. As mudanças seguem norte acima, com o fluxo daqueles mesmos Telles-Pires de outrora.
Meu escrever é obsoleto, meu respirar é obsoleto, minhas mudanças são obsoletas, e até a Gralha vai ficando velha. Tudo continua nada e vice versa, por mais esforço que se faça. É certo que ainda temos nada, mas não vejo problemas em chamar nosso nada de tudo. Ainda vou te tirar para dançar. E mesmo agora, com tanto mato, um mais grosso, continuo adorando os amanheceres da Gralha Triste.
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