Nas esquinas, paradas de ônibus, ao lado de placas de 'pare', nos estacionamentos pavimentados, e em tantos outros lugares; vejo aqueles rostos, são homens parados, aguardando sua condução ou o que quer que estejam esperando. Em todas essas faces anônimas e inertes, vejo uma tristeza semelhante, não é o frio, não é a manhã pálida, nem a incessante sequência de acordares cedos. É sim um desespero muito contido.
Subitamente, percebo um rosto conhecido entre tantos outros. Um nome me vem à mente, William, isso William, de onde deveria eu conhecer esse sujeito? Da escola, em tempos imemoriais o sujeito deve ter sido um colega de classe, e ao contorcer os corredores de minha memória, tenho certeza que poderei lembrar daquele homem atirando bolinhas de papel nos colegas, atazanando crianças menores no recreio, jogando tazo no horário da aula.
Tudo isso em épocas em que nada se esperava, a própria condução era motivo de alegria, e o acordar cedo era entrecortado de pequenas felicidades por motivos banais. "Ah mãe, tenho mesmo que ir pra aula hoje?", e ninguém pode ver desenhos animados para sempre. E como numa epifania, é triste perceber que nunca mais assistiremos à Sessão da Tarde na Globo, entre cobertas de bichinhos e com aquele copo de chocolate quente.
Já tem vida demais na minha vida. E da janela do ônibus, vejo que William dá um bocejo, vapor condensado sai de seu pulmão, a fumacinha preenche o ar, e se dissolve num rápido movimento de adeus. Aquela esquina fica pra trás, sua condução ainda não chegou, a fumaça se dispersa, e outras crianças devem estar se preparando para bater tazo, atazanar e atirar bolinhas de papel a essa hora.
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